terça-feira, 16 de setembro de 2008

roda quadrilha de junho

...não desacompanha a memória daquela manhã fria sem sol, quando uma brisa cortante agrediu o rosto seco da lágrima que à noite caíra, recordando que o tempo não havia parado e que havia de existir um amanhã, talvez, com gosto amargo ao saber do que não mais ocorrerá, um som de uma viola nostálgica e de um contrabaixo denso, que pesava nas costas, acompanhado de uma voz fina, lisa e veludosa que tingia ainda mais o céu nublado de cinza em meio ao sitio, estado de sitio das memórias de onde viera, de uma pequena família de apenas um que deixara em outro lugar e que doloria não estar lá, naquele rancho reminiscente, em cujo chão de torrar café, do lado da tulha, ainda jazia um resto de lenha a defumar o ambiente, dizendo que a fogueira que apagara guardava, à noite, um anunciado sentimento de ambígua tristeza da festa que era e não seria mais ao amanhecer, quando a sensação do beijo nos lábios iria se desfazer vagarosamente, a imagem dos seus olhos colados se afastaria, emoldurando na fotografia o que fora vivo, uma sensação de ser presente que desejava-se não escapar, relutando contemplativamente contra o continuar do tempo, promessa certa da infelicidade de não reter um espinho fincado que, ao ser removido, arrastara consigo uma catarata de sangue, até que a distância transporte as reminiscências desta cinza manhã, da qual não desacompanha a memória, quando a secura da lágrima que à noite escorrera no rosto fora agredida por uma brisa cortante, redizendo que o ponteiro dos segundos não havia parado e que havia de existir um depois, talvez, com gosto amargo ao saber do que não mais ocorrerá, um som de uma viola melancólica e de um contrabaixo contido, que contorcia os ossos do peito, acompanhado de uma voz lisa, lírica e veludosa, tingindo o céu nublado de ainda mais cinza sobre o estado de sitio da alma recordante de onde viera, de uma família de apenas um que deixara n`algum lugar e que doloria não estar lá, naquela casa reminiscente de paredes brancas e portas azuis, miradas ao chão de torrar café do quintal, do lado da tulha, do qual subia uma fumaça proveniente do fogo que apagara sobre um resto de lenha a defumar o ambiente, revelando que a noite guardava um sentimento ambíguo anunciado de tristeza pelo que queimava que e não queimaria ao amanhecer, quando a sensação do beijo nos lábios iria se desfazer vagarosamente, o movimento deslizante dos dedos sobre a pele lisa e bronzeada da face, tornando-se estanque, daria lugar a imagem dos olhos puxados se descolando, afastando, na moldura de uma fotografia, o que fora vivo há algumas horas, a sensação plena de ser presente que desejava-se não escapar, através da relutante contemplação do continuar do tempo, promessa certa da infelicidade de não reter um espinho inflamado, pulsando por ser expelido, levando consigo um rio torrente de sangue carregado de reminiscências daquela manhã fria sem sol, da qual não desacompanha a memória, quando uma brisa cortante agrediu o rosto seco da lágrima que à noite caíra, recordando que o tempo não havia parado e que havia de existir o doloroso futuro, a agonia do amanhã ali e agora...

3 comentários:

Danilo SG disse...

Quantas palavras sao necessarias para que nada escape?

Um abraco,

JPNascimento disse...

Cronos finge ser vencido por Orfeu, mas no final, cronos continua vencendo...

Quantas forem necessárias não foram suficientes!

Feliz demais, vc é o primeiro comentário destes Posts!

ABraço!

Marília disse...

belo...
uma poética construção da memória, eu diria, do trauma...que gira, gira, tentando inaugurar caminhos novos que a libertem...

ps.vc é um homem do giro, hein?...se na ciranda eu entrar eu sei que vou rodar, dessa cantiga não se escapa...
درویش
besitos...